
A combinação de remédios nos coquetéis é específica pra cada paciente,
mas as pessoas com HIV se queixam da falta de seis remédios na rede
pública de Pernambuco: Raltegravir, Tenofovir, Lamivudina, Ritonavir,
Efavirenz e zidovudina. Sobre a falta dos medicamentos, o governo
estadual disse que fez o último pedido ao Ministério da Saúde em janeiro
deste ano, de acordo com a demanda de pacientes. A gestão afirmou que
sete medicamentos importantes pra quem foi infectado com o vírus não
foram entregues na quantidade necessária, mas não especificou quais
estão em falta ou com estoque baixo.
Segundo o infectologista Demétrius Montenegro, o simples fato de tomar o
remédio fora do horário prescrito já é perigoso. “Caso aconteça algum
problema com o paciente, sempre haverá a dúvida sobre o motivo. Foi pelo
uso da medicação vencida? Então, para não ficar qualquer dúvida, eu não
recomendo o uso da medicação vencida. Ninguém vai sentir dor, febre
imediatamente. Mas no futuro pode acontecer do vírus criar força contra
essas medicações e o esquema não fazer mais efeito. É lastimável que
esteja acontecendo esse tipo de problema”, disse.
O comerciário Jerônimo Duarte tem HIV há quase 20 anos. No fim de
fevereiro, ele pegou os medicamentos que deve tomar neste mês na rede
pública de Pernambuco, quando veio a incerteza. “O que nos mantem
realmente vivos é os medicamentos. Isso é o que proporciona uma
sobrevida melhor. Entre essas medicações que eu tomo, tem uma que
estamos recebendo vencida, que é a Lamivudina. O fato de você estar
tomando um produto vencido lhe deixa inseguro, até do ponto de vista do
retorno do tratamento”, denunciou.
Preferindo não se identificar, um dos pacientes soropositivos que
dependem do estado para se tratar, explica que não consegue o Tenofovir,
um dos remédios que compõem o coquetel prescrito pelos médicos. “A
gente tem que recorrer a amigos que têm sobrando o medicamento no
estoque, em casa. Conversa com um, conversa com outro. Pede emprestado
e, quando a gente receber a medicação, devolve pra eles”, afirma.
Coordenador da ONG Grupo de Trabalho em Prevenção Positivo (GTP+),
Wladimir Reis denuncia que a medicação gratuita é uma das principais
conquistas dos portadores do HIV, que às vezes pode significar uma
questão de vida ou morte de um soropositivo. “Estamos na quarta década
da aids e uma das maiores conquistas que a população brasileira vivendo
com HIV conseguiu foi a disponibilidade da medicação. Eu acho que falta
um compromisso com a saúde, com a segurança do cidadão pernambucano”,
disse.
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